HARLEY-DAVIDSON: LENDA EM CRISE


Harley-Davidson, a lenda em crise


E aí, motors? Será que a lenda está mesmo em crise?

Li em uma postagem do site Infobae, da MSN espanhola, e resolvi trazer pra gente, aqui. O título é algo assustador para muitos: "A Lenda da Harley-Davidson já não seduz como antes: entrou na crise mais profunda de sua história".  Afinal, o que está acontecendo com a marca de motos mais famosa do mundo?

A Construção da Marca


Desde que foi fundada, em 1903, a Harley-Davidson conseguiu construir não só motos apaixonantes, como também todo um conceito em torno da marca, em que a liberdade é detectada até mesmo em seu slogan: "Mais que uma moto, um estilo de vida.". Ela conseguiu chegar ao nível máximo na escala de desejos, pois era o sonho de todo americano (jovem ou mais experiente), durante o século 20. Artistas famosos e queridos mundialmente, como Marlon Brando (no filme "O Selvagem"), James Dean (em "Rebelde Sem Causa"), Peter Fonda, Jack Nicholson e Denis Hopper (em "Easy-Rider"), e até Elvis Presley, colaboraram para tornar ainda mais conhecido esse ícone do motociclismo.

Electra Glide 1969. Ainda rodando!

Associada à liberdade, ao espírito aventureiro e estradeiro, bem como à rebeldia, as motos da Harley-Davidson, que nunca foram e nem são as melhores do mundo (desculpem-me dizer isso, tá?), foram vendidas, não como "simples" motocicletas, como como verdadeiros conceitos aos seus pretensos proprietários. Durante as grandes guerras mundiais, o Exército americano atravessava campos de batalha sobre aquelas lendas pintadas de verde musgo, estampadas até mesmo nos cartazes de convocação dos patriotas.

A Conquista do Mundo


Por muitos anos, a Harley-Davidson foi uma empresa tipicamente americana e, por que não dizer, bairrista. Era raríssimo encontrar uma Harley fora dos EUA e, quando encontrava, dava a certeza de ter sido importada, e geralmente sem assistência técnica homologada.

Duo Glide 1960


Ainda na década de 70, a marca começou a expandir-se pelo mundo: América Central e, especialmente, Europa, que foi um grande salto para a Harley.
Ao Brasil, a Harley veio pra valer somente no transcorrer dos séculos XX e XXI, nos anos 2000. Até então, era só importando para se ter uma Harley. Agora, o Brasil conta não só com dezenas de lojas, como também montadora em Manaus.

Ampliação do Mercado x Novos Consumidores


Os anos 2000 marcam, sem dúvida, um crescimento vertiginoso na produção mundial. De tudo se fabrica, de tudo se encontra, e cada vez maior torna-se a concorrência. E para a marca mais famosa de motos, isso não é diferente. Marcas antes bairristas, ou com suas fronteiras fechadas para outros países, expandiram também seus canais de vendas por todo o mundo. No Brasil, por exemplo, nos anos 80 e 90, a briga era entre Honda e Yamaha, às vezes, perturbadas pela Kawasaki ou pela Susuki,q ue chegaram pelos anos 90. De lá pra cá, muitos foram os fabricantes de motocicletas que enxergaram, no país tupiniquim, um enorme potencial. E não erraram. Hoje, além das duas citadas, vemos com facilidade pelas ruas: Triumphs, Ducattis, KTMs, Harleys (e como tem!), e tantas outras. Isso, sem contar as "pequenas" brasileiras Dafra e Kasinski, que acabaram ficando com suas fatias (pequenas, mas significativas).

Até o visual ficou mais "limpinho"

Como não bastasse essa concorrência toda, a Harley enfrenta também outro problema: mudanças de comportamento, gostos pessoais e sonhos com objetivos diferentes daqueles de 30 ou 40 anos atrás. Sim, a galera mudou e, hoje, "ser rebelde" é mais uma representação do que um estilo próprio. O mundo já não deseja mais tanta rebeldia, já não quer mais parecer o rebelde de antes. Talvez, devido a tanta tecnologia à disposição, à facilidade de comunicação e às experiências adquiridas com o passado.

O que a gente percebe, também, é que os proprietários de Harleys, em sua maioria, são hoje pessoas com salários bem acima da média, que têm condições de pagar IPVA caro, seguro (que também não é barato) e fazer a manutenção frequente da moto (bem carinha, por sinal). E isso não é pra qualquer um. Quem não tem como manter, ou vende sua moto, ou a deixa na garagem pra rodar só nos fins de semana ou fazer uma viagem, quando pode.

É um objeto de desejo caro. Apesar dos "novos ricos" que muitos países, inclusive o Brasil, possuem, há também essa questão da seletividade: o ícone americano não é pra qualquer um. Isso acaba, claro, diminuindo muito o percentual de potenciais clientes.

Adaptação a Novos Padrões


As Harleys produzidas até 1995 eram todas alimentadas por carburador. Então, para comemorar os 30 do modelo Ultra Classic Electra Glide, naquele ano, ela foi apresentada como sendo a primeira Harley Davidson com injeção eletrônica. 

Posso estar usando um clichê, aqui, mas apesar da adaptação aos novos tempos, a Harley tirou de sua marca um dos expoentes mais fortes que ela tinha: seu motorzão carburado e de ruído avassalador e inconfundível. "Ah, mas o barulho não mudou!" Sim, mudou, pessoal, e mudou também a durabilidade dos engines. Hoje, é fácil encontrar uma Harley de 30, 40 anos de idade rodando normalmente pelas ruas, tanto nos EUA, onde elas ainda são maioria nas ruas, quanto no Brasil. Posso garantir que, daqui a 30, 40 anos, não veremos HDs de injeção eletrônica tão saudáveis, a não ser que tenham passado por retíficas. Arrisco a dizer que, por conhecimento próprio, muitas HDs novas já enfrentam grandes problemas e estão lá, em oficinas especializadas (ou não), passando por sérias "cirurgias de coração". 
Adaptar-se aos novos padrões de preservação do meio ambiente não foi uma boa para a Harley, no fim das contas. Até mesmo aquela "paixão" antiga pelas HDs ganhou uma máscara: hoje, me desculpem dizer, muitos têm Harley para dizer que têm uma Harley, e não pela paixão ao motociclismo, ou pela marca. Assim como a Coca-Cola mudou seu gosto original (para fins de economia), a Harley mudou sua motorização, mas para fins de adaptação.
Heritage 1995

Concluindo


Frente a tantas ocorrências, tantos novos tipos de consumidores e tantas exigências de mercado e leis de proteção ambiental, não deu para a Harley segurar o peito e manter sua originalidade. Compreensível, até certo ponto, mas também considero um pecado cometido tanto pela marca quanto pelo mercado. Mas, como temos que nos adaptar, não há muito o que fazer. Proprietários de HDs realmente fieis não são mais fáceis de encontrar. Aliás, é fácil acontecer de um consumidor na faixa dos 20 e poucos anos mudar para uma big trail após os 30. E os motivos são claros: é difícil, hoje em dia, para qualquer marca conseguir manter esses novos consumidores fieis. Por isso, foram criados tantos programas de fidelização à marca, para que outra não traga o "fiel" para a sua trupe.

No mais, um motoabraço e tudo de bom a todos!

Street Glide 2015


Bobber 2020


Hydra Glyde 1969

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